sexta-feira, 8 de junho de 2012

Back to Taizé: Dia 7 - "Please leave your rooms empty and clean til sunday, 11.30am!"

Penúltimo dia em Taizé. Último dia vivido de manhã à noite em Taizé.
Não é difícil adivinhar que hoje, nem oração da manhã, nem pequeno-almoço, nem encontro com o Irmão Máximo. Foi impossível ouvir o Hard Sun, impossível resistir ao cansaço imposto pelo dia anterior. Doem-me as pernas, doem-me os braços quando me ponho na posição "aspirador", e sinto-me bem, completa, preenchida.
Vamos ter com o nosso grupo de partilha, é a última vez que estamos com estas pessoas a quem abrimos os nossos corações, dia após dia, durante uma semana. Troca de contactos, fotografias para recordar, abraços. As ligações ganham força em Taizé.
É também o nosso último dia de trabalho. Aspiramos pela última vez este bocado de alcatifa (hoje mais suja por causa da chuva), arrumamos pela última vez este aspirador chamado "Paix", arrastamos pela última vez estes bancos corridos lá para fora para pela última vez, almoçarmos todos juntos. Sou uma pessoa apaixonada pelas pessoas com quem partilho momentos. E custou-me despedir destas pessoas. Da Carmen, da Almo, da Hannika, da Molin, da Susy, do Tony, do Felix, do Tobias e do Christoph, o patrão. Um grande abraço, a promessa de estarmos cá todos na próxima Semana Santa, a aspirar a alcatifa e a almoçar nesta relva, como quem diz "até p'rá semana!", levando na cabeça a surrealidade da concretização desta promessa, mas com o conforto de a termos feito.
"It's always the same, every sunday we say goodbye to very nice people", diz-nos o Christoph, já  entendido, ou não fosse ele um dos muitos residentes. Sentimos que não é dado a despedidas e que o virar de costas repentino significou um "I'll miss you" engolido em seco.
E se eu ficasse aqui? E se ligasse à chefe, tirasse os dias de férias que me restam e ficasse aqui mais 3 semanas, como seria? E se no fim dessas 3 semanas percebesse que aqui é o meu lugar, deixasse o meu trabalho, a minha casa, a minha cidade, os mais importantes para mim, e ficasse a viver nesta comunidade, com estas pessoas, seria mais feliz? Claro que não, eu sei que não, respondo-me logo para me convencer. É difícil tomar decisões arriscadas que impliquem deixar tudo para trás, não é? Ao mesmo tempo, sinto uma enorme vontade de voltar e ver como vai ser a minha vida daqui para a frente.
Taizé não me mudou, Taizé não me fez ver o mundo ou as pessoas de forma diferente. Mas Taizé afastou-me e fez-me valorizar coisas mais simples. E isso sim, vai influenciar os meus actos daqui para a frente (realisticamente, talvez durante um certo período de tempo, não se pode querer tudo de uma vez).
Último jantar em Taizé, massa boa mais uma vez como se se despedissem de nós com um até breve. Esquecemo-nos das senhas nas camaratas. O loirito escreve um I <3 U nas nossas mãos, e estes gestos relembram-me o que escrevia ontem sobre o amor. É tão fácil dar amor, demonstrar amor, se o quisermos fazer.
Na alcatifa, pela última vez, à noite. Quero tanto voltar! Serei capaz de encontrar esta paz noutro lugar? É uma estupidez pensar que só tenho capacidade para estar neste estado aqui. Se calhar falta-me procurar. Se calhar falta-me pensar no que posso e devo fazer para ter isto em casa, nos meus espaços.
Naa, não penses demasiado, não queiras demasiado, deixa-te levar e não penses nas consequências, não penses no depois. Pensa no que te faz feliz agora, no que queres fazer agora, no que não tens e te faz falta, no que não queres que te faça falta durante muito tempo. É isso? Then, go for it! :)
Vamos ao Oyak beber o último capuccino, juntamos as nossas vozes a cinco guitarras, de repente são dez e temos dezenas de pessoas à nossa volta, uma dança irlandesa, é bom apreciar uma gaita de foles, uma flauta, um saxofone e um djambé a unir-se numa melodia quase perfeita.
Parece que toda a gente que vai embora amanhã quis partilhar esta última noite no Oyak. Quase não nos conseguimos mexer, está muito calor aqui. Voltamos à igreja para uns últimos momentos sem reboliço. Amanhã só vamos parar por volta das 15h, já dentro do autocarro, com 24h de viagem pela frente. Acho que vai ser uma loonga e difícil viagem.
Deito-me para trás e observo o tecto desta igreja que parece um jogo do Trivial. Olho para a esquerda... depois para a direita... observo os movimentos dos que estão aqui por perto. Penso no que terá trazido aqui este casal de velhotes, de onde será aquela rapariga com uma trança de rastas à minha frente, como será viver com um marido e 5 filhos. Pergunto-me em que acredita esta gente, o que faz aqui, como são as suas vidas. Vejo expressões de tristeza, de alegria, de angústia, vejo sobretudo sorrisos felizes.
Regressamos pela última vez à camarata, xô nostalgia. Fugimos à nostalgia, começa a parvoíce. Arrumar a bagagem, deitar, despertador, última noite sob o céu de Taizé.