sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Isso quer dizer...

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=590425&tm=2&layout=123&visual=61

Problema:

Se no dia 2 de Novembro deram 12 a 14 meses de vida à minha mãe, sendo que estamos a 28 de Setembro de 2012 e "falta" 1 mês e meio para a "sentença prevista",

Isso quer dizer que já não há medicamentos e tratamentos para ninguém? É?

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Registo de dias felizes

O dia 5 de Maio de 2012 andava no horizonte há alguns meses. Poucos, que antes eram muitos. Quis o destino que o dia 5 de Outubro se transformasse no dia 5 de Maio. Tudo se faz, pensei, e tudo se fez.

Na semana anterior o sol raiava, as temperaturas começavam a anunciar o aproximar da minha estação do ano preferida mas, claro, eis que Srª. Dª. Metereologia nos avisa que do alto dos seus 22º, o dia C se anunciava chuvoso.
Tudo pode sofrer alterações. MENOS o que não está sob o meu controlo.
Na expectativa, o dia amanheceu inundado de sol. Algumas nuvens de um lado para o outro a escondê-lo de vez em quando, mas nada que o pensamento positivo não transforme em: "ainda bem, para não termos muito calor".

"ACORDA, VAIS-TE CASAR!" - assim a minha mini-mim me acorda e ao que, surpreendentemente respondo: "só mais um bocadinho...". Descontração.

Cabelo, maquilhagem, toda a gente à minha volta. Tá-se bem, dá-me um rissol que eu tenho fome!
Posso dizer, com toda a sinceridade que, em momento algum, me senti nervosa, ansiosa ou com vontade de fugir. Pelo contrário, e também com toda a sinceridade, sentia-me linda, fresca, feliz, e cheia de vontade de dizer SIM! e ser feliz para sempre. Cor-de-rosa? Demasiado cor-de-rosa? Talvez. Who cares?

O caminho para a igreja foi feito na velha carrinha de família, a carinhosamente chamada Tavareta. Os quatro, como sempre, lá seguimos para o local da benção - a minha igreja, onde cresci e me tornei cristã adulta.
As minhas damas-de-honor abriram o caminho, a minha mãe e a minha irmã, nós os dois - eu e o meu pai, meu herói - atrás das portas. Os nervos do carequinha, não sei o que fazer filha, como é que eu ando? Sorri pai, é um dia feliz, está cá toda a gente, sorri. Os acordes da Long Road que nos acompanhou, as portas a abrir, tantos olhos à espera "para ver a noiva". Hoje a noiva sou eu. Hoje toda a gente quer ver como é o meu vestido, como é que ela traz o cabelo? abusou na bijuteria? será que vai tropoeçar? Aqui estou e a última coisa em que penso é nisso. Olha a tia Lurdes! Olha a malta do ISPA! Olha a prima Sofia que já não via há tanto tempo! Olha a família do Chico, olha a avó Piedade, olha os meus tios, o meu padrinho, os meus priminhos e quando vejo já o meu pai e o meu futuro marido se estão a abraçar e eu aqui, a olhar para eles, embevecida, já cá estamos os dois, queríamos tanto, 'bora lá.

A cerimónia fluiu e foi maravilhosa. Os nossos melhores amigos lá em cima, a ler. O avô do Chico que tão feliz foi cantar o salmo, as palavras do PV, o meu PV.
O trocar de juras, o trocar de alianças, a benção do alto, a voz da minha irmã a acompanhar. Fui feliz!

Metade do dia passou, faltava a festa. A descrição fica para depois, que é longa e agora não tenho tempo.
Ficam as imagens para recordar.




  

Fotos by Filipe Estriga.

Happiness is only real when shared. - Christopher McCandless

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Back to Taizé: Dia 8 - "Donnez une voix à sa louange, il a rendu notre âme à la vie!"

Ok, c'est ça!

São 9h30, aguardamos pela missa de Páscoa. Sacos-cama enrolados, malas feitas, banho tomado, pequeno-almoço comido, café, alcatifa, pela última vez alcatifa.
Faltam-me as palavras. Escrevi muito nestes dias, pensei muito nestes dias, não chorei muito nestes dias, apercebi-me ainda mais de que sou muito abençoada.
Ficava mais uma, duas, três semanas.
Mas já sinto o apelo do regresso.
Vou daqui fortalecida, consciente (vá, um bocadinho mais consciente) de que o importante é sempre amar. Receber e dar amor. Com o desafio de o conseguirmos dar a todos.

Tenho uma vela a meus pés. Estou ansiosa pelo momento em que seis mil pessoas a vão acender e gritar "Aleluia"!!!
Tenho uma vela a meus pés, o meu caderno preto numa mão e a caneta na outra. Nunca tinha levado um diário de viagem até ao fim. Estou muito orgulhosa de o ter feito e aguardo o momento em que vou chegar ao autocarro e o vou ler.
"Taizé é diferente", disse-me ela.
Talvez seja, talvez me tenha desperto, talvez, talvez. Só o vou descobrir quando chegar à vida real.

Acendem o fogo lá ao fundo, já não cabe mais ninguém dentro desta igreja, os sinos tocam a rebate, o burburinho acalma, Cristo ressuscitou!, vai começar a minha última celebração desta viagem a Taizé.
Chega de reflexões, acho que não me apetece escrever mais nada. Fica a certeza de querer voltar, e a alegria de ter partilhado tudo isto contigo... minha irmã.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Back to Taizé: Dia 7 - "Please leave your rooms empty and clean til sunday, 11.30am!"

Penúltimo dia em Taizé. Último dia vivido de manhã à noite em Taizé.
Não é difícil adivinhar que hoje, nem oração da manhã, nem pequeno-almoço, nem encontro com o Irmão Máximo. Foi impossível ouvir o Hard Sun, impossível resistir ao cansaço imposto pelo dia anterior. Doem-me as pernas, doem-me os braços quando me ponho na posição "aspirador", e sinto-me bem, completa, preenchida.
Vamos ter com o nosso grupo de partilha, é a última vez que estamos com estas pessoas a quem abrimos os nossos corações, dia após dia, durante uma semana. Troca de contactos, fotografias para recordar, abraços. As ligações ganham força em Taizé.
É também o nosso último dia de trabalho. Aspiramos pela última vez este bocado de alcatifa (hoje mais suja por causa da chuva), arrumamos pela última vez este aspirador chamado "Paix", arrastamos pela última vez estes bancos corridos lá para fora para pela última vez, almoçarmos todos juntos. Sou uma pessoa apaixonada pelas pessoas com quem partilho momentos. E custou-me despedir destas pessoas. Da Carmen, da Almo, da Hannika, da Molin, da Susy, do Tony, do Felix, do Tobias e do Christoph, o patrão. Um grande abraço, a promessa de estarmos cá todos na próxima Semana Santa, a aspirar a alcatifa e a almoçar nesta relva, como quem diz "até p'rá semana!", levando na cabeça a surrealidade da concretização desta promessa, mas com o conforto de a termos feito.
"It's always the same, every sunday we say goodbye to very nice people", diz-nos o Christoph, já  entendido, ou não fosse ele um dos muitos residentes. Sentimos que não é dado a despedidas e que o virar de costas repentino significou um "I'll miss you" engolido em seco.
E se eu ficasse aqui? E se ligasse à chefe, tirasse os dias de férias que me restam e ficasse aqui mais 3 semanas, como seria? E se no fim dessas 3 semanas percebesse que aqui é o meu lugar, deixasse o meu trabalho, a minha casa, a minha cidade, os mais importantes para mim, e ficasse a viver nesta comunidade, com estas pessoas, seria mais feliz? Claro que não, eu sei que não, respondo-me logo para me convencer. É difícil tomar decisões arriscadas que impliquem deixar tudo para trás, não é? Ao mesmo tempo, sinto uma enorme vontade de voltar e ver como vai ser a minha vida daqui para a frente.
Taizé não me mudou, Taizé não me fez ver o mundo ou as pessoas de forma diferente. Mas Taizé afastou-me e fez-me valorizar coisas mais simples. E isso sim, vai influenciar os meus actos daqui para a frente (realisticamente, talvez durante um certo período de tempo, não se pode querer tudo de uma vez).
Último jantar em Taizé, massa boa mais uma vez como se se despedissem de nós com um até breve. Esquecemo-nos das senhas nas camaratas. O loirito escreve um I <3 U nas nossas mãos, e estes gestos relembram-me o que escrevia ontem sobre o amor. É tão fácil dar amor, demonstrar amor, se o quisermos fazer.
Na alcatifa, pela última vez, à noite. Quero tanto voltar! Serei capaz de encontrar esta paz noutro lugar? É uma estupidez pensar que só tenho capacidade para estar neste estado aqui. Se calhar falta-me procurar. Se calhar falta-me pensar no que posso e devo fazer para ter isto em casa, nos meus espaços.
Naa, não penses demasiado, não queiras demasiado, deixa-te levar e não penses nas consequências, não penses no depois. Pensa no que te faz feliz agora, no que queres fazer agora, no que não tens e te faz falta, no que não queres que te faça falta durante muito tempo. É isso? Then, go for it! :)
Vamos ao Oyak beber o último capuccino, juntamos as nossas vozes a cinco guitarras, de repente são dez e temos dezenas de pessoas à nossa volta, uma dança irlandesa, é bom apreciar uma gaita de foles, uma flauta, um saxofone e um djambé a unir-se numa melodia quase perfeita.
Parece que toda a gente que vai embora amanhã quis partilhar esta última noite no Oyak. Quase não nos conseguimos mexer, está muito calor aqui. Voltamos à igreja para uns últimos momentos sem reboliço. Amanhã só vamos parar por volta das 15h, já dentro do autocarro, com 24h de viagem pela frente. Acho que vai ser uma loonga e difícil viagem.
Deito-me para trás e observo o tecto desta igreja que parece um jogo do Trivial. Olho para a esquerda... depois para a direita... observo os movimentos dos que estão aqui por perto. Penso no que terá trazido aqui este casal de velhotes, de onde será aquela rapariga com uma trança de rastas à minha frente, como será viver com um marido e 5 filhos. Pergunto-me em que acredita esta gente, o que faz aqui, como são as suas vidas. Vejo expressões de tristeza, de alegria, de angústia, vejo sobretudo sorrisos felizes.
Regressamos pela última vez à camarata, xô nostalgia. Fugimos à nostalgia, começa a parvoíce. Arrumar a bagagem, deitar, despertador, última noite sob o céu de Taizé.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Back to Taizé, 2011. Dia 6 - Às 3 os sinos tocam.

Por mais que não queiramos, já acusamos muito cansaço. Os dias são muito intensos, com as manhãs a puxar por nós física e psicologicamente, os momentos de oração a fazer pensar demasiado. Muitas vezes pensamentos vazios. O silêncio interior pesa, pesa, pesa...
Não conseguimos acordar para a oração da manhã e por pouco não perdemos o pequeno-almoço. Mais introdução com o fantástico Irmão Máximo, grupo de partilha, desta vez mais intenso, reflexão individual a fazer dar ao resto do grupo um pouco de nós, retirado do fundo da gaveta.
Estou de nova na alcatifa e já a conheço tão bem. Hoje sim é noite de ficar por aqui. Pensar, meditar, cantar, ser levada pelas vozes, pela guitarra, pelo órgão e pelo violino. Para mim própria é muito estranho este estado de excitação em que estou pela noite de hoje. Que prazer estar aqui.
Mesmo que não saiba muito bem a fazer o quê, mesmo que não saiba falar com Ele, mesmo que haja momentos em que o meu pensamento se começa a esvaziar e a mente se enche de "... e agoras?".
Estou aqui, sinto-me bem e o resto não importa.
Grupo de trabalho, estamos cada vez mais rápidos, como se já soubessemos precisamente quais são sempre as zonas mais sujas da alcatifa, em que sítio se sentam os mais descuidados.
Novamente ervilhas para o almoço, novamente pão com queijo para a Joana, vamos ao Oyak comer um gelado e sentamo-nos por baixo da torre dos sinos. São 3 da tarde. Os sinos tocam uma melodia triste e melancólica e tudo pára em Taizé. Os grupos de trabalho, o reboliço do Oyak, as guitarras e os djambés. Há dois mil e tal anos atrás, Jesus morria por volta desta hora, segundo a Bíblia, e nós recordamos.
Fazem-se dois minutos de silêncio por toda a comunidade, e o que se sente é inexplicável.
Os pêlos dos braços arrepiam-se, sinto o meu corpo a tremer por dentro. Mistura-se a impotência, a pequenez de se querer fazer mais. "Ama o próximo como a ti mesmo". É tão difícil.
Estamos deitadas nos bancos corridos onde normalmente comemos.
Encontro com o Irmão Christian, chileno que quis conhecer os portugueses.
Jantar, alcatifa.
Ontem e hoje chegou muita gente, a alcatifa enche-se de gente, o calor humano enche a igreja, está mesmo muito calor aqui, e tenho medo que isto me impeça de viver este momento como quero.
Já passou. E acho que foi a noite mais bonita desde a minha chegada a Taizé. Acho? Foi mesmo.
A cruz colocado no centro do corredor, as velas simples colocadas sobre ela de forma simples, com as duas chamas a ganhar força neste momento, a iluminar as cabeças de quem se chegava a elas.
A fila a formar-se. Primeiro em pé, ao fundo da igreja, depois sentados e, já próximos do símbolo da morte de Jesus, de joelhos.
Vou para a fila. Primeiro, estupidamente penso que já que aqui estou, vou. Não me apercebo da importância deste momento. Pergunto-me o porquê deste gesto. É uma cruz de madeira, são duas velas, são agora quase 6 mil pessoas à espera para encostar a cabeça. Enquanto pergunto porquê, as pessoas vão andando e eu a aproximar-me cada vez mais. Já passou uma hora mas, perdida nos meus pensamentos e dúvidas, passaram apenas 5 minutos.
Já de joelhos, faltam cerca de 6 pessoas para chegar a minha vez. O coração acelera. Porquê? Tremo novamente por dentro. Estou sozinha agora, os milhares de pessoas à minha volta desaparecem e oiço a minha respiração ofegante per-fei-ta-men-te.
Num movimento leve, levanto-me e sinto as minhas pernas a ficar cada vez mais fracas. Sinto-me a tropeçar nesta alcatifa. Deixo-me cair ao pé da cruz e vejo as lágrimas da rapariga que esteve aqui antes de mim. Agora pergunto-me o que terá deixado ali, o que terá entregue junto à morte de Jesus. Deixo eu também tudo o que me lembro, e tudo o que não me lembro. Deixo os meus maiores medos, deixo aqueles de quem mais gosto, agradeço a benção que é a minha vida e todas as bençãos que recebo, dia após dia. Faço força para ter mais fé em Alguém que realmente está lá em cima e em todo o lado. Quero acreditar, quero crer, quero sentir um Amor maior que todas as coisas. Um Amor que, independentemente das leis de todas as igrejas, mandamentos, regras, orações, seja para todos de igual forma. Um Amor que só pede Amor em troca e nada mais. Amor a nós próprios, Amor ao próximo, seja ele quem for. E se esse Amor existe, é por esse amor que aqui estou. Para presenciar como todos podem respeitar e ser respeitados, como todos podem amar e ser amados, como todos podem confiar em algo ao alcance do mais velho, do mais novo, do mais rico, do mais pobre, do mais bonito e do mais feio. É tão fácil falar e tão difícil acreditar e pôr em prática.
Amar. Este ser desenhado nesta cruz onde agora choro (e choro compulsivamente) só me pede para amar, só nos pede para sermos melhores.
Tenho medo do meu regresso à vida real, medo de esquecer toda esta vontade se ser melhor, e de resistir a tudo o que me impeça de o ser.
"Atreve-te a viver por Amor".
E deixar tudo? E partir? Como se vive por amor? Saio de Taizé com ainda mais perguntas e zero respostas. Qual é a minha missão? Qual é o meu propósito? Estou no caminho certo? É isto que tenho que me faz feliz? Irrito-me.
"Take your time, don't rush things, don't make any hurried decisions". As palavras do Father Alex aparecem de vez em quando e os meus batimentos cardíacos acalmam.
Saios dos pés da cruz, volto para o meu lugar na alcatifa, agora mais arejado, com as pessoas a sair aos poucos. Quero ficar mais um pouco aqui, a sentir esta paz tão rara, tão especial.
Alterno entre cantar e ficar em silêncio.
Sento-me de pernas cruzadas, estico as pernas, ajoelho-me, sento-me outra vez, deito-me de barriga para baixo, adormeço, acordo, canto, adormeço outra vez, sonho, acordo, vou lá fora apanhar ar. Relâmpagos em Taizé, começa chover e esta terra cheira ainda melhor molhada.
Uma pequena porta, abro-a e sinto outra vez o quentinho cor-de-laranja. Já poucos permanecem aqui. A fila, cada vez mais pequena, a cruz cada vez mais sozinha, o coro a apagar-se aos poucos, o violino, agora a flauta, fica o mesmo rapaz que toca guitarra incansavelmente há quase 6 horas.
Entre entra e sai, café e chá, silêncio e conversas sussurradas, são 03h30 e estamos aqui há 7 horas. Não dá para explicar o sentir que queria ficar mais e mais tempo. Só o sono não permite. Chove torrencialmente lá fora. Corremos para a camarata. Parecem nove horas da noite. Reboliço de gente na rua.
Estou tão cansada. Quando me deito, penso naqueles de quem tenho mais saudades, impeço-me de comunicar seja com quem for. Este tempo é meu.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Back to Taizé, 2011. Dia 5: Hoje é dia e noite de vigiar e orar!

Nunca é tarde para deixar de escrever e hoje, já dia 22 de Abril, reparo que ontem não me sobrou nem um bocadinho para estar só comigo. Típico.
Aqui, perco a noção do tempo, os momentos estão tão entrelaçados que os perco e não consigo situar.
Mas sei bem que ontem à tarde recebi boas notícias e fiquei feliz, muito feliz.
Dia de comprar objectos que levem disto aos que ficaram por lá.
Dia de dormir umas horas ao sol para estar preparada para a noite de vigília.
Planos furados, afinal é só amanhã.
Oração da noite e conhecemos a Mary Alice, francesa que arranha o inglês, mas que me acenou, para depois fechar os olhos e sorrir, transmite-me paz. Recebeu um convite para ir beber um chocolate quente ao Oyak. Entre palavras em francês, inglês e português, lá tentamos manter uma conversa, momentos de silêncio sem saber bem o que dizer mas pouco importa, os corações estão quentinhos e mais uma cara que marca esta viagem a Taizé.



De volta á igreja, ganho coragem e aproximo-me de um dos padres que por ali anda. Sentados em cadeiras, esperam por todos. Aquele, esperava por mim.
Depositei no desconhecido Father Alex os meus maiores medos, sem desconfiança, à espara de palavras sábias que concretizassem o que tenho vindo a sentir quando me sento nesta alcatifa, sozinha com os meus pensamentos.
"You have to understand if that is a gift of God". No meio de todas as palavras, esta frase fez-me todo o sentido. Até que ponto o medo é medo, a situação é preocupação e não uma dádiva para crescer? "Take your time". Um sorriso e um "God bless you". Lágrimas nos olhos e sigo tranquila.
Um cântico, uma conversa, um "go to bed". Até amanhã (que, por sinal, já é hoje).

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Back to Taizé... Dia 4: Será que um dia me vou esquecer do que sinto aqui?

Hoje o Hard Sun não me acordou.

Tive finalmente uma noite tranquila e sinto agora os efeitos disso.
São 12h e ainda não abri a boca uma única vez. Acordámos a tempo de ter 15 minutos para nos prepararmos para a oração da manhã.
A excitação da chegada já passou e agora sinto-me "one of them".
Não estive minimamente focada nesta oração. Pensamentos dispersos, não me lembro dos cânticos nem de quem se sentou ao meu lado. As palavras do irmão entraram e saíram sem deixar rasto. A minha irmã abraça-me e lembro-me dos anos em que falava disto e eu não dava importância.
Ui... estou em branco. Não tenho palavras para pôr no papel, nem emoções para descrever. Sinto calor, as saudades batem forte e eu tenho medo. Até tenho medo de pensar nas minhas questões.
Tenho medo de encontrar respostas. As Tuas respostas.

Grupo de partilha. "The Kingdom of God is like Facebook". Tu-ru-tu!
God is asking you to be His friend. Accept or Remind me Later?
You have accepted God's request.
You and God are now friends.
God likes it!
A nossa visão da parábola da Rede de Pesca. Seria tudo tão mais fácil.

De novo na alcatifa para a oração da noite. Nada de novo na nossa rotina.

Aspirar aquele pedaço da igreja, almoço (arroz com feijão+maçã+tigela de água) com o já mais coeso grupo de trabalho à sombra das árvores e hoje não há sesta, vamos até outra vila aqui perto, Cluny.

Momento da manhã: eu e a minha irmã a ensinar uma menina de 2 anos "Bonum est confidere, bonum est esperare Domine". Começou renitente, terminou com a pequena voz a sobressair entre todos à nossa volta.
Juntamo-nos ao grupo que já esperava pelo autocarro das 15h30, em direcção a Macon, com paragem em Cluny.
Encontramos uma típica vila francesa, pessoas simpáticas, distribuímos mais "bonjours" a quem passa, conhecemos a Sister Joan, com os maiores olhos azuis que já vi (talvez resultado das lentes fundo de garrafa), um sorriso puro e um "je suis content!" que nos enche a tarde.
Tenho medo de me repetir, mas a simplicidade e pureza destes momentos faz-me feliz.
Um croissant au chocolat, um café, duas túnicas para vestir e uma referência especial à Senhora que mas vendeu. Quando cá voltar, não me posso esquecer de a visitar na loja nova que vai abrir.
Chega de Cluny, é pequena, está vista, está sentida, está um bocadinho vivida.
Uma loja de música que cheirava bem.

Voltamos a Taizé a horas de jantar e surge o momento mais desagradável da viagem até agora. Jantar: prato de ervilhas. Uma fatia de pão com queijo, um tomate e uma maçã para te tratares.
O meu desagrado não passa despercebido aos estrangeiros que partilham o banco triangular connosco. "Hey!". Olho à volta. Vem lá do fundo, do 3º banco triangular. Uma rapariga chama-me e estende a mão com o seu tomate. "You want it?". Mais um sorriso de orelha a orelha. Fico sem reacção. No metro pode chegar uma mãe com 5 filhos, que não se levanta uma pessoa para dar o seu lugar, e esta, que nunca tinha visto na vida, lá ao fundo apercebe-se deste meu capricho e preocupa-se. Ela preocupa-se comigo. Sim, porque aqui não há o ser-simpático-por-ser-simpático e muito menos o ser-simpático-porque-ainda-me-podes-vir-a-ser-útil. Foi o momento 2 do dia.

Acabamos cedo o jantar. Corro para a alcatifa, falta quase uma hora, não importa, estou com uma vontade louca de escrever e o tempo não me vai chegar. Vontade louca de fotografar todos estes momentos. Fotografias que possam transmitir aos outros o que sinto, o que cheiro, os pormenores da terra nos pés do rapaz que se ajoelha à minha frente, da trança desalinhada da rapariga que se senta ao seu lado, os vincos dos panos laranja que se estendem do tecto até ao chão, sobre o fundo amarelo, o serpentear das chamas das velas que encaixam nos tijolos desorganizadamente organizados, o cheiro a incenso, a calma e a tranquilidade.
Posso escrever 200 páginas sobre esta viagem a Taizé, que nunca vou conseguir transmitir o que se vive aqui.
Esta gente toda à minha volta aguarda, com sorrisos cheios e olhares expectantes, mais uma oração que, vista de fora, é só mais uma oração. Com as mesmas paredes, os mesmos cânticos, o mesmo chão. Quem aqui vem sabe e percebe que não há uma oração igual a outra. Que uma mesma oração se pode converter em 4 mil vivências diferentes.
E hoje, eu quero a minha, e quero torná-la (ainda) mais especial.
Os irmãos entram, os sinos tocam. 20h30.

Já dentro do saco-cama, depois de uma oração confusa e, por isso, especial. Cantamos "Frieden, frieden hinter las se ich euch. Meinen frieden gabe ich euch. Euer herz verza ge nicht." - "My peace I leave, my peace I give you. Do not let your hearts be troubled."
Ela empurra-me para o corredor central.
Não quero, vejo tudo daqui, qual é a diferença?
"Crucem tuam adoramos Domine, ressurrecti onem tuam laudamos Domine. Laudamos et glorificamos. Ressurrecti onem tuam, laudamos Domine."
Agora é Ele que empurra e eu vou.
Daqui vejo tudo numa perspectiva diferente.
Não sabes nada sobre nada até o vivenciares. Pela 1ª vez, choro compulsivamente em Taizé.
Deixo (quase) tudo na cruz. Medos, preocupações, incapacidades e sentimentos menos bons aqui no chão, ao pé de Ti. Não consigo deixar tudo. O tempo está a passar tremendamente depressa. É presunção querer ver aqui uma luz no fundo do túnel? É demasiado audaz esperar por respostas neste sítio? Viajei 24h para chegar aqui, já experienciei a simplicidade desta comunidade, já sei que quero voltar. Estarei a sentir-me assim tão especial para querer mais?

"Se um homem tiver 100 ovelhas e uma delas se tresmalhar, não deixará as 99 no monte, para ir à procura da tresmalhada?". Então se sim, porque é que eu ainda para aqui ando, perdida?

Muita filosofia para mim a esta hora.

Sinto-me relaxada, mas ao mesmo tempo esgotada. São muitos momentos de reflexão, não estou habituada. É muita informação, são muitas imagens boas para tão poucos dias e acho que o meu coração não aguenta.

Saímos, estou apática, um crepe com chocolate e não me apetece estar no Oyak, quero dormir.